terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Troia - Sagres 2011 [Rescaldo]

Este conhecido evento de ciclismo é o resultado de um convite que António Malvar faz a todos para que o acompanhem a fazer ligação entre Troia e Sagres por estrada de BTT e ajudarem-no a levar por diante esta sua obstinação anual. Comecou em 1990 quando o fez sozinho e gradualmente o número de "amigos" que o acompanham tem aumentado, tendo sido acompanhado em 2010 por 1200!

A história do Troia - Sagres por António Malvar

"Quando fiz 40 anos, o que aqui entre nós, não foi assim há tanto tempo, estabeleci para mim próprio um teste anual para contrariar a sensação de velho que minhas filhas já adultas me faziam sentir.Tinha de ser um teste duro e dificilmente ao meu alcance. Como por essa altura fazia atletismo de fundo e sobretudo ultramaratonas, não fazia muito sentido estabelecer objectivos no desporto para o qual estava bem treinado. Daí pensei na bicicleta que era algo que não praticava com regularidade.Em cada Natal, com a reunião de toda a família, ficamos particularmente mais sensível ao tema da velhice e nesse mesmo ano de 1990 decidi que a viagem que invariavelmente fazia a Sagres para passar o fim de ano com a família passaria a fazê-la de bicicleta todos os anos até que pudesse. Este era o teste, ir de Tróia a Sagres de bicicleta num só dia e chegar antes de anoitecer.Ora se por um lado com a minha devoção ao BTT, o que aconteceu logo no ano a seguir, isso tornou o objectivo a alcançar menos duro e fácil de conseguir, por outro lado a mudança da hora de Inverno para um hora mais cedo veio a tornar as coisas mais complicadas.Nesse 1º ano de 1990 levei 10 horas e 25 minutos a chegar a Sagres depois de muito suor e lágrimas. Em 2003 no entanto gastei apenas 6 horas e 12 minutos.Vários são os factores que podem contribuir positivamente para tornar a viagem mais: fácil: Ir em grupo, o tempo colaborar, não haver vento de frente, a boa alimentação nos dias anteriores, dormir suficientemente nas noites anteriores, comer um farto pequeno almoço no dia, e ter um carro de assistência.Felizmente todos os anos há uns quantos amigos que respondem afirmativamente ao meu convite para me acompanharem nesta loucura o que torna a viagem mais agradável e o convívio ao jantar nesse dia transforma-se num dos bons momento da minha vida.
A tomada de tempo na chegada a Sagres é feita na placa toponímia de entrada na vila e a concentração depois da chegada é junto ao Posto de Turismo de Sagres."

A nossa história

Como muitos outros adeptos do BTT, já há alguns anos que ouvimos falar deste evento como algo que apenas os mais aptos, treinados e loucos conseguem fazer. E como qualquer desafio, deixa-nos a pensar se conseguiriamos faze-lo.
No nosso grupo, apenas um já o tinha feito várias vezes e este ano outros dois aceitaram este desafio. Eramos para ir quatro mas, por vários motivos, apenas dois conseguiram aparecer na manhã de 10 de Dezembro de 2011 no ferry que nos levaria de Setúbal a Troia



Apontámos para apanhar o segundo ferry da manhã que partia às 7:55, e lá estávamos nós cerca da 7:30 na longa fila de carros de apoio que esperam também passar para Troia. Por pouco que ficávamos em terra, pois o nosso carro foi o último a entrar no barco e já teve de entrar de lado.





No barco encontrámos um grupo de amigos que também veio para esta aventura e com objectivos muito próprios :-)



E quem melhor para nos acompanhar, incentivar e alimentar, durante esta longa jornada, do que as nossas mulheres.


Chegados a Troia parámos o carro, retirámos as nossas bikes, equipamo-nos e pelas 8:50 estávamos a pedalar. Apesar do frio, não havia vento nem chuva o que animava todos os que arrancavam.
Não se tratando de uma prova, cada um arranca quando está pronto e vão-se vendo pequenos grupos a partir e a perderem-se de visto na longas retas.
No início tentamos aquecer um pouco e arranjar um ritmo que nos permita chegar ao fim num tempo aceitável. No meu caso, rapidamente percebi que não iria conseguir manter uma média elevada por isso mantive-me sempre acima dos 20km/h.


Nas primeiras horas foi ver os grupos que iam em bicicletas de estrada a passarem-nos, uns a seguir aos outros. Mas com bicicletas de BTT já não vi assim tantos a passarem por mim. E assim se passaram as horas da manhã, a pedalar, pedalar, pedalar e a coleccionar quilómetros. De hora a hora viamos o nosso carro de apoio o que era sempre uma boa visão e um bom incentivo.


Acho que pela hora de almoço começou a cair a primeira chuva, mas nada de preocupante. E por essa altura o nosso carro de apoio veio ao nosso encontro com uns excelentes pregos no pão para nossa satisfação. Quando parei para comer, comecei a sentir as pernas a arder, uma dor que parecia estar corroer-me os musculos e não era nada agradável, mas pensei que passaria mal voltasse a pedalar.

Após termos devorado os nossos pregos, voltámos à carga pois ainda falta mais de metade do caminho. A verdade é que as dores não passaram quando voltámos à estrada.

Os primeiros 100km são "planos", mas depois disso teriamos algumas boas subidas pela frente: Odeceixe, Aljezur e Carrapateira.

Dos 100 ao 150km, foi uma luta constante para arranjar motivação, força de vontade e força nas pernas. É aqui que questionamos o que estamos ali a fazer com tantas horas feitas e sem um fim à vista.
Na passagem pelo Rogil o Miguel parou para um lanche, mas eu não consegui parar. Bastou-me parar 1 minuto ao pé do carro para começar a sentir de as dores a aumentarem e sabia que talvez não conseguisse retomar. Por isso continuei sozinho.


Já deviam ser quase 17h, pois o sol estava a desaparecer quando atingimos os 150km. Como nos separámos no Rogil, daqui para a frente foi cada um por si.
A noite chegou e com ela veio a chuva, mas agora já não se sentia nada. Nem dores nem cansaço, nem nada. As últimas 2 horas e meia foram feitas já num estado zen e só se ia parar quando se chegasse ao destino. Nesta última fase fui-me juntando a pequenos grupos com quem mantinha o ritmo durante algum tempo e que depois largava ou eles me largavam.

Já perto de Sagres, o Miguel alcançou-me e assim fizemos os últimos quilómetros novamente juntos.

Pelas 19:15, mais de 10horas depois de iniciarmos esta loucura, chegámos ao nosso objecto: Sagres!

É de facto duro e penoso, mas é igualmente gratificante.
Quando cheguei e parei, senti que não conseguia fazer nem mais um metro em cima da bicicleta.

Agora, enquanto escreve este texto, percebo porque tantos voltam a repetir esta aventura.

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